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Relatório de inflação sugere que próximo corte da Selic será de 1 ponto percentual
Expectativa para a taxa de juros no final deste ano fica mantida em 8,50%Depec-Bradesco*
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do primeiro trimestre, divulgado hoje pelo Banco Central (BC), sugere intensificação do ritmo de flexibilização da política monetária na próxima reunião do Copom. A desinflação mais disseminada, que também atinge os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária (como os preços de serviços), a recuperação bastante gradual da atividade econômica e o cenário externo relativamente tranquilo para economias emergentes sustentam a expectativa de que o BC reduzirá a taxa de juros em 1,0 p.p na reunião do próximo dia 12 de abril. A despeito dessa sinalização relativa à mudança do ritmo de cortes, o documento não trouxe sinais claros acerca da extensão do ciclo e nem da avaliação da autoridade monetária em relação à taxa real de juros de equilíbrio da economia.
Leia: BC prevê crescimento de 0,5% da economia este ano, com inflação de 4%.
O relatório trouxe revisões baixistas dos diversos cenários de projeções de inflação, reforçando expectativa de continuidade da desinflação. No cenário de referência, que contempla taxa de juros a 12,25% e taxa de câmbio constante em R$/US$ 3,10 por todo o horizonte, a inflação projetada foi de 3,9% para este ano e de 4,0% para 2018. Já o cenário de mercado, que utiliza as taxas de câmbio e de juros da pesquisa Focus, a variação do IPCA chega a 4,0% ao final deste ano, 0,2 p.p. abaixo da expectativa considerada na reunião do Copom em fevereiro, e em torno de 4,5% para 2017.
Além disso, os cenários híbridos, que combinam as duas hipóteses do cenário de mercado e de referência, também mostraram ligeira revisão para baixo. No cenário 1, contempla-se a taxa de juros do cenário de mercado, de 9,00% para 2017, e o câmbio do cenário de referência, de R$/US$ 3,10. Já no cenário 2, ocorre o inverso: a Selic fica constante em 12,25% e câmbio projetado é o do cenário de mercado. No cenário híbrido 1, que nos parece mais aplicável ao contexto atual, a inflação projetada é de 3,9% para 2017 e de 4,3% para 2018.
Em relação à atividade econômica, o BC reafirmou a avaliação de que os sinais mistos dos últimos indicadores divulgados são compatíveis com a estabilização da economia. Entretanto, destacou novamente que o nível de ociosidade permanece elevado. Ademais, fez a ressalva de que seus cenários de inflação dependem da evolução da política fiscal e das reformas e dos ajustes na economia. Além de seus efeitos serem capturados pelos preços de ativos, a política fiscal também influencia os cenários do BC através dos impactos de curto prazo sobre a demanda agregada. No cenário externo, apesar das incertezas, o crescimento econômico mais forte das economias globais neste primeiro trimestre e seu impacto positivo nos preços de commodities têm mitigado os efeitos da normalização da política monetária norte-americana.
Como dito anteriormente, diante (i) da contínua melhora das expectativas de inflação; (ii) das novas surpresas baixistas com a inflação corrente e (iii) da retomada muito gradual da economia, como sugerida pela frustração com o desempenho do setor de serviços e do comércio em janeiro, o BC possui elementos suficientes para acelerar o ritmo de queda de juros na próxima reunião, em abril. Adicionalmente, destacamos a ressalva feita pelo BC de que a extensão do ciclo não depende exclusivamente das expectativas para a inflação em 2017 e 2018, mas também das estimativas de juro neutro da economia e das expectativas de inflação dos modelos do BC para 2019. Mantemos nossa expectativa de que a taxa Selic encerre o ano em 8,50%.
* Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.

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